Sustentabilidade social em explorações de ruminantes

Paz Lavín

15/12/2021

A componente social da sustentabilidade, um dos pilares que compõem a sustentabilidade, a par das componentes económica e ambiental, representa um desafio para o setor da pecuária em duas frentes de atuação, que são e serão determinantes no seu futuro. Por um lado, é necessário atender às exigências da sociedade na forma como são produzidos os alimentos de origem animal, nomeadamente o bem-estar animal. Por outro, a nível interno, a sua sobrevivência implica satisfazer as expectativas da comunidade de produtores de gado relativamente a uma qualidade de vida e de trabalho de acordo com os tempos atuais.

No plano internacional, o pilar social está a irromper com força, tanto na sua representação nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pelas Nações Unidas, como no decálogo de sustentabilidade integral da empresa agroalimentar proposto pelo Ministério da Agricultura, da Pesca e da Alimentação, no qual melhorar a consideração pelos trabalhadores, contribuir para a economia local, promover a comunicação com o consumidor e incorporar a tecnologia e a inovação no setor são compromissos que a empresa assume e que se estendem a toda a cadeia de abastecimento, incluindo os seus fornecedores, como os produtores de gado. No entanto, apesar do seu aparente protagonismo, a realidade atual é que a sociedade associa a sustentabilidade ao meio ambiente, ficando os aspetos sociais relegados para segundo plano, apenas com presença de divulgação nos meios de comunicação. É esta a conclusão de um relatório recente que analisa a Agenda 2030 nos meios de comunicação.

Neste contexto, coexistem dois cenários contraditórios: a crescente exigência social de uma legislação cada vez mais rigorosa que regule a criação de animais em exploração; e um desconhecimento por parte da sociedade, tanto do modo como se realiza a criação de animais e da legislação que a regula, como dos importantes benefícios que oferece no seu caráter multifuncional e da realidade do setor da pecuária como um todo. Um setor que teve de enfrentar grandes mudanças e se submeter a inúmeras inspeções e normas para cumprir a legislação e se manter competitivo na sua luta diária para não desaparecer, com uma atividade fortemente ligada ao meio rural, que não cessa de perder influência política e representação demográfica, económica e laboral.

Dar a conhecer o trabalho do produtor de gado e aproximar a realidade produtiva do consumidor e da sociedade em geral, bem como tornar mais atrativo o trabalho nas explorações, são desafios que o setor enfrenta, a par de ser rentável e eficiente, para dignificar e valorizar a profissão na sociedade e, com isso, promover a renovação de gerações, atraindo profissionais jovens de ambos os sexos para a atividade – objetivo impossível de alcançar sem o envolvimento institucional e sem a oferta de condições de vida no meio rural (infraestruturas, comunicações, novas tecnologias, educação, especialização, saúde, etc.) semelhantes às das zonas não rurais.

O diálogo entre o setor produtivo e a sociedade deve ser iniciado nas escolas, sob a alçada da educação para o desenvolvimento sustentável, dando a conhecer o papel do produtor de gado e a sua responsabilidade social de fornecer alimentos de qualidade e cuidar do bem-estar dos seus animais e do meio rural onde desenvolve a sua atividade. Com base neste conhecimento, deve ser promovido o reconhecimento do seu trabalho, por meio de um diálogo que aproxime o produtor de gado da sociedade, para ganhar aliados que simpatizem com as suas preocupações e fidelizá-los na aquisição dos seus produtos a um preço justo.

Assim, na avaliação da sustentabilidade social das explorações, em que o bem-estar do produtor e dos animais está interligado, tanto os indicadores de bem-estar animal (ambiente, manipulação, instalações, alimentação, saúde, comportamento) como os de bem-estar dos trabalhadores (qualidade de vida e trabalho), em conjunto com indicadores económicos e ambientais, integrados no programa de gestão para a classificação da sustentabilidade nas explorações, são uma ferramenta útil que permite obter uma informação de grande valor de apoio à melhoria contínua, identificando deficiências, servindo de base na tomada de decisões e informando a sociedade e o consumidor sobre como se realiza realmente a criação de animais.

 Paz Lavín